Segundo o oceanólogo Lauro Calliari, do Núcleo de Oceanografia Geológica da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), esse fenômeno costuma ocorrer em lugares onde a erosão marinha está mais acentuada, como as praias citadas. Calliari relata que, há cerca de até 3 mil anos, quando o nível do mar era mais baixo foram se formando lagoas e pântanos na costa, onde se depositaram materiais finos como lama e argila. Com o passar do tempo, esses depósitos lagunares foram compactando o material, formando rochas sedimentares não consolidadas, que acabaram sendo cobertas por areia.
O avanço do mar, porém, começou a descobrir esses depósitos mais antigos, que costumam estar da zona de rebentação a até 10 quilômetros da costa, numa profundidade que chega a 10 metros.
— Podem ter vindo do mar, devido a ação das ondas, que tirou a areia e erodiu esse depósito, lançando da praia. E pode ter sido a ação de movimentação das ondas na própria faixa de areia, que também contém esses depósitos — explica o especialista.
Calliari salienta que o material é um tipo de rocha não consolidada, cuja ação das ondas pode quebrar. Como cada vez mais os ciclones têm se intensificado na costa, a movimentação do depósito é cada vez maior. No ciclone-bomba, exemplifica o oceanólogo, as ondas de até seis metros de altura podem ter feito um estrago ainda maior.
— Ondas potentes podem erodir blocos gigantescos, exercendo ação sobre o fundo do oceano em até 40 metros de profundidade — comenta.
Segundo o oceanólogo Antônio Matos, da Secretaria de Meio Ambiente de Tramandaí, não há motivos para recolhimento do material porque ele faz parte daquele local.
_ Não é contaminante e, se não houver um outro ciclone-bomba, o mar irá repondo a areia retirada durante a ressaca. Isso deve levar até dois meses. É a dinâmica do ambiente. Não é preciso interferir na natureza _ esclarece.
Hot spot erosivo
Além dos blocos milenares, a erosão por conta de fenômenos naturais — como ciclones no oceano — também vem causando alterações profundas na costa gaúcha. É o caso do Farol da Conceição, em São José do Norte, a 70 quilômetros ao norte de Rio Grande, que está no que os oceanólogos chamam de hot spot erosivo, um ponto de erosão intensa na costa do Rio Grande do Sul.
— Ciclones extratropicais e ciclones-bomba geram ventos fortes, que geram ondas poderosas com grande energia. A pressão baixa, o vento forte e a arrebentação das ondas acabam fazendo subir o nível do mar que vai erodindo a zona costeira — esclarece Calliari.
O Laboratório de Oceanografia Geológica da Furg vem, desde 1996, de forma sistemática, monitorando o local, inclusive usando drone. Segundo os pesquisadores, a taxa de redução da linha de praia atinge 4,37 metros ao ano. É como se o Farol da Conceição tivesse “andado” 68 metros em direção ao mar, de 1996 até 2018.
Em 1993, o farol antigo acabou caindo. Cinco anos depois, foi a vez da casa do faroleiro. Há 10 anos, o farol estava a cerca de 30 metros da linha da praia. Agora, está prestes a ser engolido pelo oceano.
Fonte: Gaúcha ZH
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